Dear Cupid, next time hit both.









quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Once I ran to you... now I run from you

Há vezes em que me apetece tanto fugir... De ti, de nós, de tudo o que te traz até mim. Nem que seja só por uns minutos. Ir para um sítio meu, só meu, em que tu não estejas. Mas isso é impossível... Todos os meus sítios preferidos foram descobertos contigo, ou então partilhados contigo, e por isso eles estão impregnados de recordações tuas. Neles, é impossível não te pensar, não te sentir, não nos rever ali, há alguns meses ou mesmo anos atrás, juntos e felizes, tão felizes. Por isso, quando quero tirar-te um bocadinho de mim, corro. Como se estivesse a fugir. Corro no mesmo sítio onde corria contigo, no mesmo sítio onde corríamos juntos e onde rimos tantas vezes, onde me fizeste andar de bicicleta com a certeza de que, dessa vez, eu ia gostar - odiei, claro, como já sabia que odiava, mas valeu a pena pelo momento partilhado contigo. Corro no mesmo calçadão, com a mesma paisagem, mas agora sozinha. Concentro-me apenas no som compacto dos meus ténis a baterem no solo, e na música, sempre no máximo, ao ponto de me ferir os ouvidos, para que não consiga sequer ouvir os meus próprios pensamentos. Corro, de olhos fixos no chão ou no horizonte, com a mente vazia de imagens, de cheiros, de vozes, de ti - a maior parte das vezes, vazia de ti. Às vezes, porém, é mais difícil tirar-te de mim, tirar o teu rosto da minha mente, tirar a sensação dos teus dedos da minha pele, libertar-me da recordação do meu corpo envolvido nos teus braços. Da última vez, por causa disso, quase corri até à exaustão. As minhas pernas fraquejavam, já tremiam, mas eu continuava a ordenar-lhes mentalmente que corressem, enquanto os White Stripes me berravam aos ouvidos "...and now I'm talking to myself out loud because I can't forget....". Não conseguia esquecer (-te), tão simples quanto isso. E precisava de outras sensações que não aquelas provocadas pelas recordações de nós, do teu toque na minha pele, da tua voz no meu ouvido, nem que isso implicasse uma dor excruciante nas pernas e no coração que já avisava não aguentar mais. Parei quando as minhas pernas atingiram o limite e me atiraram ao chão. Caí de joelhos e apoiei as mãos no chão, sem forças, a respirar com dificuldade. O ar passava-me na garganta a uma velocidade estonteante, a fazer um barulho estranho, ora grave, ora agudo, conforme eu expirava ou inspirava. O coração galopava, a querer saltar-me do peito, o sangue pulsava-me com força nas veias do pescoço e a cabeça latejava. Ocorreu-me que, se alguém me visse assim, pensaria que estava a ter um ataque qualquer e chamaria uma ambulância. Com esforço, levantei a cabeça e olhei em volta, mas não havia ninguém. Era de noite, estava frio, e ninguém vai para ali correr àquela hora. Assentei um pé no chão e uma mão no joelho, numa tentativa de me levantar, mas assim que comecei a fazer força senti uma tontura que me atirou de novo ao chão. Voltei a ficar de joelhos e baixei a cabeça até pousar a testa no chão, esforçando-me por acalmar a respiração. "Ao menos já não te sinto em mim", pensei, não naquele momento, não por mais uns minutos. Sentia as dores, as pernas a tremer, o ar rarefeito, o coração a palpitar brutalmente, as gotas de suor a descerem-me pela cabeça, até à testa, de onde pingavam para o chão, mas nada de ti, nada do teu abraço quente, nada do teu sorriso. Quando já conseguia respirar sem ruído, voltei a tentar levantar-me devagar. Já de pé, olhei para o relógio e constatei que corri cerca de uma hora, mais do que o normal. Olhei para trás, estimando que corri perto de dez quilómetros. Cambaleei até ao muro mais próximo, para fazer alguns alongamentos, embora soubesse que no dia seguinte mal conseguiria mexer as pernas. No fundo, esperava estar cansada o suficiente para, pelo menos naquela noite, não voltar a sentir-te em mim. Porque já sabia que, no dia seguinte, tu ias estar em mim outra vez. Como sempre, como estás sempre que eu acordo...

9 comentários:

  1. Não é possível correr para longe dos nossos pensamentos... ;)

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  2. eu quando corro desligo do mundo e so volto ao mundo quando ja estou com dores nos musculos o que é para ai 40minutos depois. Mas é melhor tecnica terapeutica que tenho actualmente

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  3. o trauma que eu tinha com a baixa de lx e a estaçao de comboios( especialmente com o miradouro do lado do chiado) ja me passou.

    já consegui voltar aquele sitio sem me sentir mal................já é 1 progresso

    ps: tu conheces aquela musica dos Lit? e eu a pensar que era o unico que conhecia aquele video parvo

    pps: post de 2f tem um desafio tens coragem para o responder? =P

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  4. ohh que texto. esquecer algumas coisas é realmente uma maratona. e nem sempre se chega à meta.

    enviaste este texto à Lua? devias ^^

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  5. Caia: oh... às vezes eu gosto de pensar que é. Pelo menos enquanto corro eles não estão lá...*

    Rita: oh... obrigada***

    Jo: comigo funciona da mesma maneira... ;)

    Riga: é um bom progresso, sim, sem dúvida... eu sinto-me a sufocar quando regresso a certos sítios... por isso não vou lá. Claro que conheço, o vídeo é estúpido mas eu gosto muito da música! Hum tenho de ir lá ver esse desafio lol...*

    Girl in motion: thanks sweety... pensei nisso, se calhar ainda envio... ;) beijinho

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  6. que texto forte este...!
    sabes que, por momentos, também eu fiquei com a respiração mais forte, com as pernas a tremer... por entender - tão bem - essa fuga que tentas fazer de algo que estará sempre contigo - o teu passado.

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  7. Joana: não há um sítio para onde se possa mandar o passado? para lá do sol posto ou assim? era muito mais fácil... beijinho*

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  8. não sei querida. já procurei esse sítio imensas vezes - e estou nessa procura agora - mas nunca o encontrei, nem uma simples pista, para lá chegar...
    fazemos um acordo: quem o encontrar primeiro, indica o caminho?!
    maybe in neverland.

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