Dear Cupid, next time hit both.









terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Try, try, try.



Não sei se é isto que é suposto acontecer à medida que crescemos, mas eu apercebi-me, algures a meio do caminho, que a coisa que mais fazemos na vida é, muito provavelmente, tentar. Nós, pessoas, tentamos o tempo todo. Tentamos perder peso, ir para a cama mais cedo, chegar atrasados ao trabalho menos vezes. Tentamos poupar dinheiro, comer menos chocolate, tentamos ir mais vezes ao ginásio, tentamos agradar mais ao nosso chefe, tentamos merecer um aumento, mudar para um trabalho melhor. Tentamos encontrar a pessoa certa e, quando achamos que a encontrámos, tentamos fazer com que funcione. Tentamos colar o coração de volta quando não funciona. Perdoar-nos quando a culpa foi nossa. Tentamos que, para a próxima, a culpa não seja nossa. Tentamos dar mais atenção à família e aos amigos, poupar dinheiro, fazer aquela viagem. Tentamos olhar mais pela saúde, comer mais fruta, fazer caminhadas pela praia, ver mais vezes o pôr-do-sol. Tentamos dar mais valor às coisas boas, não reparar nas coisas más, tentamos ler mais e ver menos televisão, aprender outra língua, ser mais cultos. Tentamos, o tempo todo, viver de acordo com o que imaginámos. Tentamos saber quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Tentamos ser felizes, e tentamos de tal forma que vivemos cansados de tentar. Tentamos tanto, que é quase tudo o que fazemos. E é quase como quando repetimos muitas vezes a mesma palavra e ela perde o sentido; tentamos tantas vezes cortar a meta de braços no ar que esquecemos o sabor que tem cortá-la mesmo a rastejar, com a garganta seca, com os joelhos em sangue. Tentamos tanto, que deixamos de saber onde acabam as tentativas e onde começa a vida, ou onde as duas se encontram, como se cruzam. Como se vive a tentar, em vez de tentar viver. Vezes demais.