Dear Cupid, next time hit both.









quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sorte é o pipi da tia.

Acho que se ouvir mais uma pessoa a dizer "ah vais viver para x sítio?? que sorte!", prego-lhe semelhante chapadão que só pára de dar voltas nas cuecas quando bater na parede. Sorte? Sorte era ter-me caído um bilhete de avião no colo. Sorte era ter ganho o euromilhões e assim ter dinheiro para ir. Sorte era uma alma caridosa ter-se chegado ao pé de mim e dizer "Oh minha donzela que sois tão linda, quereis fazer o favor de pegar nesta passagem de avião para uma das cidades mais fantásticas do mundo? E tomei lá também uma casinha já com a renda paga para os próximos tempos, e já agora, porque não levardes a família e os amigos consigo? Fazei o favor, ora essa, o prazer foi todo meu!". 
Qualquer uma dessas hipóteses teria sido sorte, sim. Mas, por estranho que pareça, não foi o caso. Incrivelmente, tive de pagar o voo, tive de trabalhar bastante e de me poupar a muitas coisas para juntar (muito) dinheiro para sobreviver nos próximos tempos, tive de deixar um trabalho de que gosto para já, sabendo que muito provavelmente vou servir às mesas. Tive de sair da minha zona de conforto porque vou deixar o que me é conhecido, o que me é confortável, o que é seguro, e até o meu idioma vai ter de ser trocado por um em que não sou fluente. E pior do que isto tudo, descobri hoje, vou ter de deixar pessoas. Pessoas de quem gosto e que estão na minha vida. E se umas vão continuar lá quando eu voltar, outras podem não estar, porque a vida continua, as pessoas seguem em frente e nós ficamos para trás.
Portanto, não é sorte. É sacrificar umas coisas para ter outras, é ter força para fazer ouvidos moucos a quem disse que eu era louca, é ter em mente que é um sonho tornado realidade e que a vida é curta demais para viver no morno. É ter coragem, sobretudo. Ter coragem para ser feliz, quando o que temos, o que todos os outros têm e que lhes chega, não nos chega a nós.