Dear Cupid, next time hit both.









terça-feira, 28 de maio de 2013

Para mim é inverno e tu nem sabes.


As árvores estão quase despidas e tu não chegaste a saber como gosto de vê-las douradas. Não chegaste a saber que a caminho dos 30 anos ainda salto nos montes de folhas secas só para ouvi-las estalar debaixo dos meus pés. Era esta a altura para aprenderes que o meu chá preferido é o de maçã e canela feito em casa e que o bebo sempre sem açúcar, ou então o de hortelã com uma colher de açúcar amarelo. Que os meus biscoitos preferidos são os de gengibre e canela e que o meu chocolate preferido tem avelãs. Tu não sabes, porque não ficaste o suficiente para aprender, que o barulho e o cheiro da chuva são os meus preferidos e que digo sempre que o outono é a minha estação mas a verdade é que nunca consegui escolher uma porque sou indecisa demais. Tu não sabes que, mesmo assim, eu escolhi-te a ti, cedo demais. Tu não aprendeste que, quando acordo, nunca fico na cama muito tempo porque começo a pensar demais e não sabes, porque não ficaste tempo suficiente para aprender, que o meu pequeno almoço preferido vai ser sempre leite e torradas com muita manteiga. Não sabes que o meu doce preferido é o de abóbora nem que nunca vou deixar de pintar as unhas de vermelho, nem de cantar no carro embora saiba como canto mal. Tu não sabes, porque não quiseste saber, como me apaixonei por ti e como te dei o que de melhor tinha. E não sabes como foi ter de guardar de volta todos os beijos que não quiseste no bolso, e seguir. Tu não chegaste a saber, mas eu ter-te-ia dado todas as canções, todos os poemas, todas as juras que precisasses de ouvir e também a minha mão. Mas tu não ficaste tempo suficiente, e por isso não aprendeste que o pôr-do-sol será sempre a minha altura preferida do dia, nem que nada me acalma como ver o mar ou olhar as estrelas, nem como seria se não me tivesses arrancado tudo das mãos.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ter o coração partido é ter de parar.



Ter o coração partido é ter de parar. Ter de parar de sentir saudades, de sentir, de querer. Ter de parar de esperar. Que ele volte, que se arrependa, que o telemóvel toque e seja ele. Que chegue num cavalo branco com a capa que nunca lhe serviu. Ter o coração partido é ter de parar de pensar no que fizemos de errado, no que podíamos ter feito diferente. Ter de parar de imaginar que pode haver outra pessoa no nosso lugar a fazê-lo feliz. É ter de parar de pensar que devíamos ser nós a fazê-lo feliz. Ter de parar de ter noites em branco ou cheias de sonhos com ele, ter de parar de lembrar tudo, ter de parar de saber a que soava o riso dele. Ter o coração partido é ter de parar de ter medo que a próxima pessoa também nos desfaça. É ter de parar de chorar antes de adormecer. Ter de parar de vê-lo em todo o lado. De lembrar as conversas que tivemos e de imaginar as que podíamos ter tido, de pensar em tudo o que podíamos ter sido, de achar que demos demais. De querer voltar atrás e ter só mais um dia com ele. Ter de parar de ter os dias cheios de saudade. Ter o coração partido é ter de parar. É ter de parar, mas nunca, nunca conseguir.

sábado, 11 de maio de 2013

Eventualmente, cansa.



Eventualmente cansa. Não ter aquela pessoa que nos conhece como ninguém, que sabe que quando estamos tristes precisamos de uma tablete de chocolate com amêndoas, que sabe que não deve fazer-nos perguntas de manhã porque vamos sempre responder mal, que sabe que o nosso sítio preferido é ao pé do mar a ver o pôr-do-sol. Cansa nunca ouvirmos as palavras que queríamos ouvir, aquelas de que precisávamos mais. Nem que fosse no final dum desses dias merdosos. Cansa não haver quem se despeça de nós sempre com um beijo antes de ir para o trabalho, mesmo sabendo que odiamos que nos acordem – cansa não ter quem saiba que preferimos que nos acordem só para termos esse beijo na testa, ou então não ter quem se arrisque a dá-lo, porque não quis ir embora sem se despedir de nós, mesmo sabendo que pode levar um empurrão por nos ter acordado. Eventualmente, cansa. Não ter quem pense em nós logo de manhã e faça questão de nos dizer isso, ou então quem pense em nós antes de adormecer e também faça questão de dizer isso. Cansa não ter quem sinta a nossa falta e o diga de vez em quando, cansa não ter quem nos diga que somos importantes e não ter quem enumere todas as razões pelas quais se apaixonou por nós. Cansa não ter quem nos diga que o apaixonámos, assim, de forma parva, tão parva como a que sentimos. Cansa não saber que somos tão queridos quanto queremos, não saber que sonham com o nosso sorriso ou com os nossos olhos, não ter quem nos ligue só porque precisava de ouvir a nossa voz. Cansa não saber se a nossa voz faz falta a alguém. Cansa, eventualmente cansa. Não ouvir que foi tão bom estar connosco que não apetecia ir embora, que os minutos até chegarmos foram contados com ansiedade, que a música na rádio ao fim da tarde fez pensar em nós e sorrir. Não ter quem queira uma fotografia nossa só para poder ver-nos quando não estamos, não ter quem nos queira tanto na sua vida que nos apresenta a todos os amigos, não saber se alguma vez fomos ou seremos aquilo que gostávamos de ser. Cansa, sobretudo, que os gestos não se coordenem com as palavras, e não saber o significado das ausências. Eventualmente, cansa. E, sobretudo, cansa não saber.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ter o coração partido é não saber.



No fundo, ter o coração partido é não saber. Não saber como passar pelos dias agora que ele não está. Não saber como apagar as mensagens, nem como não sabê-las de cor. Não saber como não lembrar a voz dele nem as palavras que disse. Ou as que nunca chegou a dizer. Ter o coração partido é não saber sequer se a culpa foi dele por ter mentido ou nossa por termos acreditado. Não saber se ele ainda usa o mesmo casaco, se ainda se penteia da mesma forma, se ainda cheira ao mesmo perfume. Não saber se ele agora dá a mão a outra pessoa, se outra pessoa encosta a cabeça naquela que era a nossa almofada e adormece no abraço apertado dele. É não saber se há alguém que ele faça rir como nos fazia rir a nós. Ter o coração partido é não saber quando vamos ter sossego no coração outra vez, e não acreditar que um dia vai voltar a ficar tudo bem. É não saber se ele ainda pensa em nós, se tem saudades, se se arrepende. Se acha que devia ter-nos dado outro valor. E desejar que sim. No fundo, ter o coração partido é não saber se algum dia vamos voltar a tê-lo inteiro.