Dear Cupid, next time hit both.









sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Lembra-te que eu não sei ler corações.



Aprende a minha comida preferida. Aprende que o meu gosto se divide entre dias de chuva e pores-do-sol, entre o céu cinzento e o céu estrelado, entre o amanhecer no verão e uma lareira no inverno. Lê os meus poemas e aprende que todos eles falam de amor. Que sou sensível demais, fria demais, perdida demais. Que dou demais, sempre demais. Vem e rasga-me o peito e vê que o meu coração está amolgado demais. Aprende o meu livro preferido, e como prefiro beber o café. Fica a saber de cor os meus olhos. Mas não te demores. Vem e decora também o meu cheiro, até o da minha almofada, se quiseres. Vem e aperta-me até eu saber o teu – não posso esquecer o teu. Não demores, e eu prometo que fico até tu chegares. Mas não demores. Aprende também a calar-me com beijos, a entrelaçar a minha vida na tua, e como levar a minha mão. E por favor, lembra-te que eu não sei ler corações, mas eu gostava que todas as pautas do teu tivessem escrito o meu nome.

Escrito ao som de "E agora?" (Mikkel Solnado e Joana Alegre).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Fritem-me o coração, mais vale.



Há dias em que me custa até pertencer à raça humana. Coisinha ruim que nós somos. Canso-me facilmente de andar por aqui a expor-me ao ridículo, a oferecer-me para me fazerem mais uma mossazinha no coração. E que amassado que já está o meu coração. Queria-o de volta. Queria-o inteiro e livre de amolgadelas, que as palavras que já o atingiram em cheio tivessem afinal passado ao lado e que ele só lhes tivesse sentido a brisa. Queria as minhas próprias palavras de volta, porque eu já falei demais, já partilhei demais, já dei demais. Vezes demais. Por esta altura, sinto o meu coração já quase cozinhado em lume brando, numa espécie de banho maria que ora o faz saltitar, ora o coze sem piedade. Quase me apetecia que o panassem. Talvez ficasse mais protegido. Coisinha ruim que nós, as pessoas, mesmo as de coração mole, somos.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Porque a verdade é esta

Quero-te por uma noite. A verdade é esta. Quero-te aqui e agora, sem vagar e sem demoras, como se fosse a altura certa, como se o timing fosse o perfeito. Como se não houvesse o reverso da moeda. Queres-me também?
Quero a tua mão a percorrer-me a espinha, quero beijos no pescoço e o cabelo preso nos teus dedos. Quero que me mordas e que morras por não me veres. Que a minha ausência te mate, porque a tua só me deixa vivo o coração o suficiente para te sentir a falta. Quero que não durmas sem a minha cabeça no teu peito, e que o teu último pensamento seja eu. Quero-te tanto. Queres-me também? 
Quero Amor, a verdade é esta. Assim mesmo, Amor, com letra maiúscula e orgulho minúsculo, com quatro letras e infinita vontade, sem calma e com a loucura que já não há no Amor. Quero que não procures mais nada para poder dar-te tudo, quero que me vejas, que me queiras, quero-te aqui. E não quero que queiras além de mim.
Porque a verdade é esta. Quero-te por mais que uma noite. Quero-te para uma vida. 
Quero-te agora.
Quer-me também...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Try, try, try.



Não sei se é isto que é suposto acontecer à medida que crescemos, mas eu apercebi-me, algures a meio do caminho, que a coisa que mais fazemos na vida é, muito provavelmente, tentar. Nós, pessoas, tentamos o tempo todo. Tentamos perder peso, ir para a cama mais cedo, chegar atrasados ao trabalho menos vezes. Tentamos poupar dinheiro, comer menos chocolate, tentamos ir mais vezes ao ginásio, tentamos agradar mais ao nosso chefe, tentamos merecer um aumento, mudar para um trabalho melhor. Tentamos encontrar a pessoa certa e, quando achamos que a encontrámos, tentamos fazer com que funcione. Tentamos colar o coração de volta quando não funciona. Perdoar-nos quando a culpa foi nossa. Tentamos que, para a próxima, a culpa não seja nossa. Tentamos dar mais atenção à família e aos amigos, poupar dinheiro, fazer aquela viagem. Tentamos olhar mais pela saúde, comer mais fruta, fazer caminhadas pela praia, ver mais vezes o pôr-do-sol. Tentamos dar mais valor às coisas boas, não reparar nas coisas más, tentamos ler mais e ver menos televisão, aprender outra língua, ser mais cultos. Tentamos, o tempo todo, viver de acordo com o que imaginámos. Tentamos saber quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Tentamos ser felizes, e tentamos de tal forma que vivemos cansados de tentar. Tentamos tanto, que é quase tudo o que fazemos. E é quase como quando repetimos muitas vezes a mesma palavra e ela perde o sentido; tentamos tantas vezes cortar a meta de braços no ar que esquecemos o sabor que tem cortá-la mesmo a rastejar, com a garganta seca, com os joelhos em sangue. Tentamos tanto, que deixamos de saber onde acabam as tentativas e onde começa a vida, ou onde as duas se encontram, como se cruzam. Como se vive a tentar, em vez de tentar viver. Vezes demais.