Dear Cupid, next time hit both.









quinta-feira, 21 de abril de 2011

A paixão


"(...) É assim que começa a paixão. E a paixão é o aspecto mais perigoso do desejo humano. A paixão leva àquilo que os psicólogos chamam «pensamento intrusivo» - aquele famoso estado de distracção, em que não nos conseguimos concentrar em mais nada, a não ser no objecto da nossa obsessão. Assim que a paixão ataca, tudo o resto - empregos, relações, responsabilidades, comida, sono, trabalho - fica pelo caminho, enquanto alimentamos fantasias sobre o ser amado, que rapidamente se tornam repetitivas, invasivas e absorventes. A paixão altera a química do nosso cérebro, como se nos estivéssemos a encharcar em opiáceos e estimulantes. Os cientistas descobriram recentemente que os exames de imagiologia cerebral e alterações de humor de uma pessoa apaixonada são extraordinariamente semelhantes aos de uma pessoa viciada em cocaína - e não é de estranhar, pois a paixão é uma adição, com efeitos químicos mensuráveis no cérebro. Tal como a antropóloga e especialista em paixão, a doutora Helen Fisher, explicou, as pessoas apaixonadas, tal como qualquer drogado, «sujeitam-se a coisas pouco saudáveis, humilhantes e até fisicamente perigosas para conseguir o seu narcótico».
(...) É claro que o problema com a paixão é o facto de ela ser uma miragem, uma ilusão de óptica - na verdade, uma ilusão do sistema endócrino. A paixão não é exactamente a mesma coisa que o amor; é mais como a sua segunda prima duvidosa, que está sempre a pedir dinheiro emprestado e não consegue segurar um emprego. Quando nos apaixonamos por alguém, não estamos realmente a olhar para essa pessoa; estamos apenas cativados pelo nosso próprio reflexo, inebriados por um sonho de completude que projectámos num perfeito desconhecido. Nesse estado, temos tendência para decidir todo o tipo de coisas espectaculares sobre os nossos amantes, que podem ou não ser verdade. Percepcionamos algo quase divino nos nossos amados, mesmo que os nossos amigos e família não o vejam. No fim de contas, a Vénus de um homem é a lambisgóia de outro, e outra pessoa poderá facilmente considerar o nosso Adónis pessoal um falhadozinho, absolutamente entediante. (...)" (Elizabeth Gilbert, "Comprometida")

Espero que todos tenham tido o mesmo sentimento de iluminação e clarificação quando leram isto. Vamos lá, todos juntos: "ahhhhhhhh..." - com um suspiro de desalento no final, por favor.

3 comentários:

  1. Eu limito-me a dizer apenas um "ufa!!" por estar livre dessa droga desgraçada :-))

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  2. Ana: quando somos correspondidos não é desgraçada... o pior é quando não somos :/

    Little J.: eu tb ;)

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