Perto dos 30 sinto que já posso fazer uma introspecção a
nível pessoal e, sobretudo, emocional. Analisar as nossas relações falhadas pode
ser tão doloroso como raspar os cotovelos no alcatrão, e dar-nos uma visão tão
óbvia das coisas como se tivéssemos andado por aí com umas lentes de dioptria
0.5 quando na verdade precisávamos de umas com 5.0. E eu demorei muito a ver e,
sobretudo, a acreditar naquela que provavelmente é a mais cruel das verdades:
quem gosta de nós trata-nos bem. É tão linear quanto isto, a menos que a outra
metade da laranja tenha traços psicopatas. Quem gosta de nós importa-se, preocupa-se,
procura-nos, liga-nos. Nunca fica sem bateria, nem sem rede, e nunca perde o
telemóvel convenientemente a meio de uma noitada. Quem gosta de nós quer estar
connosco, independentemente do cansaço, do que tenha para fazer, da hora que
for ou da chuva lá fora. Quem gosta de nós mostra-o. Faz planos. Apresenta-nos
a família e os amigos. Quem gosta de nós pergunta-nos como foi o dia e ouve a
resposta. Sabe qual é o nosso chocolate preferido e quando precisamos daquele
abraço. Tira-nos uma fotografia só para poder ver-nos quando não estamos e
liga-nos só para ouvir a nossa voz. Quem gosta de nós dorme melhor connosco e
não vai embora sem um beijo de bons dias. Quem gosta de nós fica, e não nos
deixa ir.
É esta a mais dura das verdades. Quem gosta não tem medo que
seja maior do que um sentimento, nem vergonha mais forte do que uma declaração
de amor. Nem sequer incerteza maior do que a vontade de ficar. Quem gosta até
pode perder-se, mas sabe sempre para onde quer voltar.
(inspirado num texto qualquer não sei de quem.)
Gostei muito, muito, muito deste texto. Felizmente, vivo uma relação que contempla tudo o que referes como "quem gosta". Não foi cedo que apareceu, mas foi muito óbvio. E é isso que dita o amor, parece-me - não haver lugar a falsas ilusões e tudo isto que indicas ser mais que natural e nem sequer ser questionável.
ResponderEliminarA tua conclusão pode ter chegado tarde, mas chegou. Agora certamente verás bem melhor o que tens a teu lado. A vida ensina; nós é que, por vezes, não queremos aprender. Espero que a tua lição, embora duramente aprendida, valha para não mais voltares às baixas dioptrias. ;)
eu já com 30 nem sempre acredito nisso :(
ResponderEliminarPena que por vezes demoramos tanto a aprender, mas o importante é aprender.
ResponderEliminarInspirado num texto do Alvin, que sei quase de cor. So true.
ResponderEliminarV.