Eventualmente cansa. Não ter aquela pessoa que nos conhece
como ninguém, que sabe que quando estamos tristes precisamos de uma tablete de
chocolate com amêndoas, que sabe que não deve fazer-nos perguntas de manhã
porque vamos sempre responder mal, que sabe que o nosso sítio preferido é ao pé
do mar a ver o pôr-do-sol. Cansa nunca ouvirmos as palavras que queríamos
ouvir, aquelas de que precisávamos mais. Nem que fosse no final dum desses dias
merdosos. Cansa não haver quem se despeça de nós sempre com um beijo antes de ir
para o trabalho, mesmo sabendo que odiamos que nos acordem – cansa não ter quem
saiba que preferimos que nos acordem só para termos esse beijo na testa, ou
então não ter quem se arrisque a dá-lo, porque não quis ir embora sem se
despedir de nós, mesmo sabendo que pode levar um empurrão por nos ter acordado.
Eventualmente, cansa. Não ter quem pense em nós logo de manhã e faça questão de
nos dizer isso, ou então quem pense em nós antes de adormecer e também faça
questão de dizer isso. Cansa não ter quem sinta a nossa falta e o diga de vez
em quando, cansa não ter quem nos diga que somos importantes e não ter quem
enumere todas as razões pelas quais se apaixonou por nós. Cansa não ter quem
nos diga que o apaixonámos, assim, de forma parva, tão parva como a que
sentimos. Cansa não saber que somos tão queridos quanto queremos, não saber que
sonham com o nosso sorriso ou com os nossos olhos, não ter quem nos ligue só
porque precisava de ouvir a nossa voz. Cansa não saber se a nossa voz faz falta
a alguém. Cansa, eventualmente cansa. Não ouvir que foi tão bom estar connosco
que não apetecia ir embora, que os minutos até chegarmos foram contados com
ansiedade, que a música na rádio ao fim da tarde fez pensar em nós e sorrir.
Não ter quem queira uma fotografia nossa só para poder ver-nos quando não
estamos, não ter quem nos queira tanto na sua vida que nos apresenta a todos os
amigos, não saber se alguma vez fomos ou seremos aquilo que gostávamos de ser.
Cansa, sobretudo, que os gestos não se coordenem com as palavras, e não saber o
significado das ausências. Eventualmente, cansa. E, sobretudo, cansa não saber.
sábado, 11 de maio de 2013
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Cansa mesmo muito, mói. Não estás sozinha...
ResponderEliminarAo menos isso!
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