Dear Cupid, next time hit both.









sábado, 3 de abril de 2010

Ainda bem que a escolheste a ela.

Esta noite só adormeci às 4 da manhã. Pensei em ti durante algum tempo. Já por duas vezes estamos no mesmo sítio, à mesma hora, e não nos cruzamos. Eu acredito em coincidências, acredito em sorte e em azar. E acho que tenho tido sorte, muita sorte. Porque eu vejo o teu carro e a perspectiva de encontrar-te deixa-me maluquinha. O pior nem é o facto de eu imaginar logo a cena toda - como vou olhar-te, a minha postura, o que vou dizer-te, será que devo parecer indiferente, fria, distante, ou que devo apenas sorrir para que tu penses que já passou? O pior é que eu vejo-me de imediato ao espelho no meu carro, a observar o meu próprio rosto em busca de imperfeições, enquanto murmuro para mim mesma que podia ter-me penteado melhor, que podia ter escolhido outra roupa, que podia ter-me maquilhado mais, que podia... deixar de ser uma idiota chapada? Sempre quis estar no meu melhor para ti. Agora, ao olhar para trás, não tenho a certeza de qual terá sido o motivo. Não sei se era por eu sempre ter achado que não era boa o suficiente - afinal, o que uma pessoa como tu podia ver numa pessoa como eu...? - ou se era apenas porque queria encantar-te, porque queria prender-te, motivo pelo qual usava todos os meus melhores atributos. Talvez fosse um bocadinho dos dois... A verdade é que resultou, eu consegui prender-te a mim, mas não o suficiente. E embora hoje saiba que foi melhor assim, que nunca teria sido feliz ao teu lado, ainda tenho a certeza daquilo que nos unia. Aquilo que ninguém via e que, mesmo que alguém soubesse, nunca poderia perceber. Nós os dois... estamos avariados. Os dois. O que aconteceu com o teu pai e, depois, com a tua mãe, marcou-te para a vida, moldou-te a personalidade dura e fez com que tu nunca mais vás funcionar normalmente. A mim também me aconteceram coisas más o suficiente para que eu nunca vá ser igual às outras pessoas. Quem nos vê não imagina... Nós temos amigos, inserimo-nos bem, parecemos sempre tão normais. Mas a verdade é que nem tu, nem eu, alguma vez nos sentimos realmente inseridos e ambos sabíamos, sem nunca termos precisado de falar sobre isso, que nenhum dos dois alguma vez irá funcionar correctamente, não o suficiente para sermos queridos e felizes ao lado de pessoas normais. Lembras-te de quando te contei aquele segredo? Aliás, eu nem precisei de contar-te... tu perguntaste, eu olhei-te nos olhos e tu percebeste. A leveza com que voltaste a tocar no assunto, uma ou outra vez, fez-me ter a certeza de que não me julgavas - pelo contrário, percebias, e quanto muito isso ainda tornava a minha personalidade mais estranha e perversa e tu adoravas. Estas pequenas anormalidades tornaram-nos únicos - contigo eu não tinha de fingir. Mas fingir nunca foi problema, tanto que nunca fiquei sozinha, excepto por opção própria. Portanto é só isso mesmo que eu vou fazer, pelo menos enquanto a sorte jogar a meu favor e eu não tiver de cruzar-me contigo - fingir. Que passou, que passaste, que já não penso em ti. Ainda penso, mas já quase nada. O resto, finge-se. Como sempre. Ainda bem que a escolheste a ela...

4 comentários:

  1. Como eu te compreendo...
    E ainda hoje o vi... E eu simplesmente não sei como agir. Se ele ainda me acha aquilo tudo que um dia achou, se eu estarei bem, bonita, aos olhos dele! Se ele sentirá a minha falta...

    "Que passou, que passaste, que já não penso em ti. Ainda penso, mas já quase nada. O resto, finge-se." Simplesmente igualzinha a ti...!

    ;) Boa Páscoa querida Sofia **

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  2. Bom texto...
    A parte onde descreveste que vês o carro dele e ficas em pulgas traz-me a mim própria recordações bem antigas, estilo do arco da velha! eheh

    Boa semana...
    E bons fingimentos. ;)
    Beijo *

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  3. Sonhadora: é... por um lado eu tb gostava de saber as respostas a essas perguntas todas... por outro lado é melhor assim. É mais fácil fingir... beijinho ;)

    Sophie: acho que todos nós temos recordações assim... ;) obrigada lol beijinho*

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  4. Minha querida Sofia...
    Será sempre assim. Sempre que se cruzarem as memórias vão voltar a povoar o teu pensamento - e os deles também porque, ainda que não o suficiente, o prendeste. Porque é assim que a Vida é... Por mais tempo que passe, o que realmente nos marcou não se apaga com o desgaste dos anos, o que nos marcou - no verdadeiro sentido da palavra - fica sempre...
    Não quero dizer que sempre que passares por ele, ou quando existir essa possibilidade, te vás lembrar dele dessa forma que lembras agora. Vais aprender a olhá-lo de outra forma, recordando os bons momentos que agora pertencem irremediavelmente ao passado... E é bom olhar alguém assim: porque nos faz sentir vivos, nos faz ver que fomos vivendo e não apenas sobrevivendo...
    Vais ver que um dia deixará de ser necessário fingires, um dia vais estar realmente bem.

    Eu também tenho um desses fantasmas... Mas o risco de me cruzar com ele é muito reduzido ... e ainda bem!

    Um beijinho

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