Dear Cupid, next time hit both.









sexta-feira, 29 de julho de 2011

Boy, we made such a mess together.


Não queria escrever para ti. Eras teimoso e chato e querias estar sempre a espetar-me beijos nas bochechas. Eras meticuloso e voltavas sempre atrás para verificar se a porta do carro estava fechada, e confirmavas duas ou três vezes - essa tua POC irritava-me tanto. Quando arrumavas alguma coisa, fazia-lo milimetricamente. Tenho saudades de gozar-te por causa disso. Quando dormíamos juntos, via-se perfeitamente qual era o meu lado da cama; quando íamos acampar, via-se perfeitamente qual era o meu lado da tenda. Era aquele que tinha roupa espalhada por todo o lado, e o teu era o que tinha só uma camisola perfeitamente dobrada em cima da mochila. Mas depois saltavas de penhascos, saltavas de cabeça e sem pensar duas vezes, e por isso eu sabia que não eras aborrecido. Cantavas mal. Meu deus, cantavas tão mal, tinhas tão pouco sentido para a música que até as tuas palmas eram fora do ritmo. Tinhas vergonha das coisas mais idiotas, como entrar numa loja só para ver coisas quando não ias comprar nada, mas eras a pessoa mais sociável que eu conhecia. Era tão fácil gostar de ti, com o teu sorriso fácil, os teus traços perfeitos, a tua simpatia e o teu bom coração. Quando eu chorava por causa de um animal no meio da estrada, tu limpavas-me as lágrimas e dizias "tu tens um coração tão grande..." e, nessas alturas, eras a melhor pessoa do Mundo para mim - ainda que eu soubesse que não eras. Achava uma mariquice pegada que um homem feito não tivesse qualquer problema em abraçar a mãe só porque sim e em enchê-la de beijos - mas, secretamente, achava isso o máximo. Também achava uma lamechice que tivesses a minha foto no fundo do teu telemóvel e a nossa música como tom de toque, mas sorria sempre que a ouvia. Ainda a tens. Dois anos depois, ainda a tens. Dois anos depois, ainda me atendes o telemóvel a dizer "Wow, isto foi estranho! Tinha acabado de marcar o teu número e carregar no verde para te ligar...". Não queria escrever para ti. Não queria, porque isso é dar-te esta importância toda, e porque eu não gostava daquelas coisas todas. Mas eu tenho tantas saudades delas.

8 comentários:

  1. Zé: obrigada :)

    Chá verde e lavanda: obrigada :)

    Manuel: não sei o que isso significa, mas estou contigo!

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  2. é quando nos distanciamos das coisas que percebemos às vezes que as coisas que mais nos irritavam eram insignificantes, comparando com a big picture.

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  3. Girl in motion: é precisamente isso... é ridículo.

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  4. Imagino, imagino tudo isso Sofia!
    Era tudo bem mais facil se não existissem as saudades, mas às vezes é muito bom lembrar de momentos bons que tivemos e esses são só nossos, ninguem nunca nos pode tirar.

    Bjinhos

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  5. Ainda bem que escreveste, embora não quisesses "dar importância".A vida são dois dias e, neles, devemos dar valor que nos acontece de bom e também saber partilhar isso!Achei fantástico!

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