Percebi a forma como o meu coração, pequenino e confortável, batia contra o meu peito. Percebi que se achava em casa outra vez, que achava que, finalmente, tinha tudo acabado e voltado ao normal. Senti-me um pouco mal por enganá-lo. A ele, passava despercebida a ausência de pormenores como a moldura com a nossa fotografia em cima da mesa de cabeceira, ou como a minha certeza de que de manhã, e no dia seguinte, e no outro, tu ainda estarias ali, e eu não quereria ir a lado nenhum. Então, eu fechei os olhos com muita força, e deixei o meu coração acreditar. Fechei os olhos com muita força, e comecei a decorar-te. Como se fosse preciso – como se eu alguma vez te tivesse esquecido. Mas achei que mais tarde, quando já não estivesses ali, podia fazer crer ao meu coração que ainda estavas. Decorei o peso exacto do teu braço em cima da minha cintura, o ritmo calmo e certo com que o teu peito aumentava ou diminuía a pressão contra as minhas costas à medida que inspirava ou expelia o ar. Decorei o contraste da temperatura da tua pele contra a minha, a pressão quase nula com que as pontas dos teus dedos roçavam a pele da minha barriga e o modo certo como as nossas pernas se entrelaçavam. Fiz crer ao meu coração que um dia, um dia talvez pudéssemos ficar assim para sempre. Abri os olhos e notei que a nossa fotografia continuava a não estar na mesa de cabeceira. Então, sem saber como, consegui desprender-me do teu abraço morno sem te acordar. Levantei-me em silêncio, vesti-me, decorei uma vez mais a primavera no teu rosto que dormia. Uma última vez, amei o contorno perfeito dos teus lábios, peguei nas minhas coisas e no meu coração, e saí.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
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E às enganamo-nos tão facilmente... *
ResponderEliminarSofia, li os dois textos de seguida e, confesso, há algum tempo que não lia nada tão profundo e tão bem escrito. A dor está bem presente mas parece-me que a vontade de continuar também... por isso, força!
ResponderEliminarAdorei.. =) Lindo..
ResponderEliminarTão bom de ler...
ResponderEliminarMissy: é verdade...*
ResponderEliminarteardrop: muito obrigada :)
teorianasnuvens: obrigada :)
Miri: ainda bem q gostaste :)
perfeito!
ResponderEliminarC.. obrigada :)
ResponderEliminarAdorei o texto...por momentos regredi e vi que já me senti assim... mas como te disse são fases como as da lua... e vais ver que a primavera te vai sorrir.. sem precisares de a sonhar!
ResponderEliminarGosto muito de ler-te. mas confesso que há alguns posts que me entristecem, por me identificar tanto com eles. esse foi um deles. tive um relacionamento de 7 anos muito intenso que terminou. E minto (não só aos outros como a mim própria que está tudo bem, que já o esqueci), mas ao ler estas linhas percebo que aonda não acabou... talvez não acabe nunca, talvez só tenhamos que aceitar que amamos uma pessoa e pronto... seguir em frente. tb eu sai muitas vezes da vida dele, mas voltei outras tantas... sempre com a esperança vã que daquela vez fosse diferente. Boa sorte!!!
ResponderEliminarMarge: obrigada querida*
ResponderEliminarMoleskine: já acredito mais que é isso, temos de aceitar que amamos e seguir em frente... esquecer parece (tão) impossível. Beijinho e obrigada*
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