
Eles dizem-me que não vale a pena. Que não vale a pena, que eu consigo melhor, que eventualmente vai passar e as coisas vão voltar a ter a sua ordem natural. Mas eu não quero que passe, sabes? Não quero que passe. Quero sentir-me assim, quero que me deixes a dançar sozinha como deixas sempre quando passas, que me faças ver sol onde ele não existe e querer chapinhar em poças de água como quando tinha cinco anos. Porque não passa um único dia em que eu não pense em ti, e por que hei-de eu desistir de algo em que penso tanto? Porque hei-de eu desistir dos sorrisos que me deixas plantados no rosto, ainda que eles sejam parvos e pelos motivos errados? Eu ainda acho que tu vais ver-me. Ainda acho que vais encontrar-me aqui e perceber que esperei por ti este tempo todo, por ti, por isto. Por poder acordar ao teu lado e fazer-te sorrir com os meus lábios pressionados contra os teus, por ter as palmas das tuas mãos quentes no fundo das minhas costas e arrepiar-me com elas, por perceber que pregares os olhos nos meus te dá outro sentido aos dias. Eu vou ficar aqui à espera, e tu um dia vais acordar e vais ver que nada é igual a mim, e aí eles vão calar-se, vão calar-se e perceber que eu sou feita de sonhos e que tu foste feito para me adormecer.