Hoje apeteceu-me participar, já há muito que tinha vontade de o fazer. Por isso, e porque até diz bem com o título do blog, aqui fica o meu texto para o tema deste mês da Fábrica de letras - "O cheiro da chuva".
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Ainda me lembro. Quando chovia eras meu, amavas-me cada centímetro da pele morena e sempre arrepiada, sempre a contar com a tua mão. É isso, o cheiro da chuva lembra-me as tuas mãos. As tuas mãos perfeitas e a maneira como se encostavam ao meu rosto, como me afastavam os cabelos dos lábios antes de os beijares, sorrires e murmurares um daqueles nomes bonitos que nunca mais deixei que me chamassem. Agora, limito-me a dizer, com um sorriso trocista: "Não me chames isso, por favor. É foleiro...". Claro que, na verdade, é porque ouvi-lo traz-te de volta e ao modo como aquelas palavras soavam quando saídas dos teus lábios. Ainda me lembro. Do teu riso, de sorrir sempre que te via, ainda ao longe, das borboletas que me esvoaçavam na barriga e de ter sido assim durante muito, muito tempo - mais do que a paixão, supostamente, deveria durar. Mesmo quando eu (já) te amava, tinha borboletas por todo o lado só de pensar em ti. E eu amei-te tanto, tanto. Tanto que já passou um ano e ainda hoje, quando chove, eu vejo sempre o teu rosto, ouço sempre a tua voz, percebo sempre que o teu abraço já está tão longe que mal consigo senti-lo à minha volta. E a chuva... sempre que sinto o cheiro da chuva, voltam as tuas mãos... e aquela tarde, em que encostei os lábios aos teus pela última vez, em que me desfiz em lágrimas e o meu mundo como o conhecia mudou, em que mudei o teu mundo como o conhecia também. Chovia, chovia muito, e nós ficámos abraçados uma eternidade, num adeus que ainda hoje parece que não acabou, porque ainda é atordoante e ainda me aperta o peito sempre que te vejo. Depois desse adeus, fui para a chuva e chorei a apertar o peito com os braços, numa tentativa de me abraçar como tu o fazias, para acalmar a dor, para travar a saudade que começou, nesse momento, a instalar-se no meu peito e que nunca mais me deixou.
Ainda te lembras? Eu não consigo esquecer...
bem o teu desafio vou escrever mais logo, á tive a despachar o alternative, para ver se me inspiro bem no que escrever.
ResponderEliminarhum não conhecia esse blog, auilo é um desafio de escrita mensal?
QUE LINDO! *.*
ResponderEliminarauch! tu escreves sempre sempre tao bem mas este post, ainda mais que os outros, senti tanto cada palavra tua....
ResponderEliminarRiga: sim é, participa quem quiser. Vai lá e ficas a conhecer melhor... Ah e volto a referir que é sempre agradável quando comentas tudo menos o que eu escrevo... lol
ResponderEliminarBocados: obrigada... :)
Jo: oh, obrigada... :)
Minha querida Sofia, estou aqui novamente siderada. Que eu adoro a tua forma de escrever, e mais do que isso o sentimento que espelham as tuas palavras, já eu sabia e já to tinha dito. Mas dou por mim a ficar novamente e completamente tonta a olhar para o monitor. Não sei se por reconhecer o sentimento, por o saber tão meu, ainda meu... se por o ter sentido na pele, por o sentir ainda.
ResponderEliminarRaios, miúda, até fiquei com a lagriminha no canto do olho.
«É isso, o cheiro da chuva lembra-me as tuas mãos. As tuas mãos perfeitas e a maneira como se encostavam ao meu rosto, como me afastavam os cabelos dos lábios antes de os beijares, sorrires e murmurares um daqueles nomes bonitos que nunca mais deixei que me chamassem.»
E o medo? O medo de ouvir as mesmas palavras da boca de outro? Aquele frio na barriga, aquele cruzar de dedos, aquele pensar: não, não me chames isso. E quando vemos, lemos ou até ouvimos as mesmas palavras, somos levadas para os braços, para o calor do corpo, para o aconchego da pele, para aquele sorriso que nos fazia e ainda faz perder... para o brilho daqueles olhos. Aquele olhar, aquele, que não existe, não encontramos em mais ninguém.
«Claro que, na verdade, é porque ouvi-lo traz-te de volta e ao modo como aquelas palavras soavam quando saídas dos teus lábios. Ainda me lembro. Do teu riso, de sorrir sempre que te via, ainda ao longe, das borboletas que me esvoaçavam na barriga e de ter sido assim durante muito, muito tempo - mais do que a paixão, supostamente, deveria durar. Mesmo quando eu (já) te amava, tinha borboletas por todo o lado só de pensar em ti. E eu amei-te tanto, tanto. Tanto que já passou um ano e ainda hoje, quando chove, eu vejo sempre o teu rosto, ouço sempre a tua voz, percebo sempre que o teu abraço já está tão longe que mal consigo senti-lo à minha volta. E a chuva... sempre que sinto o cheiro da chuva, voltam as tuas mãos... »
E aqui, neste parágrafo, remeto-me ao silêncio, um silêncio que é tanto. Que diz tanto. Tanto.
Parabéns pelo texto. Adorei. Quando se escreve com o coração... o resultado é este. Lindo.
Blue: ohh... tu é que me deixaste com lágrimas nos olhos ao ler esse comentário... obrigada pelos elogios, antes de mais nada... mas, acima de tudo, é saber que alguém percebe, que alguém lê as nossas palavras e as sente também certeiras no meio do peito... comoveste-me, bolas :/ espero que continues a visitar sim? beijinho grande*
ResponderEliminareu também participei,
ResponderEliminarsaudações otárias!
Otário: tenho de ir lá ler então :)
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